É muita dispersão. A imagem trava, o cachorro começa a latir, passa o carro do gás tocando música na rua”. Os impactos do ensino remoto no aprendizado de alunos em idade escolar, relatados por Gabriel Antônio, 31 anos, professor da rede estadual de São Paulo, condizem com o que aponta pesquisa Datafolha, publicada hoje (14): boa parte dos estudantes precisará de reforço no retorno presencial às aulas.
O percentual é ainda mais alto entre crianças em fase de alfabetização, com 76% delas com necessidade de algum apoio para complementar o aprendizado, segundo pais e responsáveis ouvidos pela pesquisa. O levantamento, encomendado por Itaú Social, Fundação Lemann e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), ouviu 1.306 pais e responsáveis e 1.850 estudantes de escolas públicas entre os dias 6 e 30 de dezembro de 2021. A margem de erro para as respostas dos alunos é de dois pontos percentuais para mais ou para menos; já a margem de erro para as dos responsáveis é de três pontos. Professor de História e Geografia há dez anos na escola pública Johann Gutenberg, no Parque Edu Chaves, zona norte paulistana, Gabriel lida com o que a pesquisa revela, não só enquanto educador, mas também como pai de dois alunos, um de 11 e outro de 8 anos. O caçula, que iniciou em 2020 o primeiro ano primeiro ano do ensino fundamental —quando as crianças começam a ser alfabetizadas— , começa em 2022 o terceiro ano sem completar a alfabetização. “Meu filho está no terceiro ano, o último dos ciclos de alfabetização, e não está alfabetizado. Ele está silábico [termo usado quando o aluno sabe ler algumas sílabas], mas de acordo com o que deveria ser, ele deveria estar já alfabetizado. Isso também ocorre com muitas crianças da sala dele, que ainda não estão alfabetizadas corretamente no período certo”, relata Gabriel. Fonte: UOL